Internautas assediam adolescentes para bate-papo
virtual com cenas de sexo
Adolescentes são atraídos por predadores sexuais que usam a rede mundial
para praticar assédio
A TARDE flagrou o comportamento de predadores sexuais na internet e de
gente que usa a rede mundial de computadores para praticar sexting contra
adolescentes. A palavra tenta resumir um fenômeno disseminado principalmente
entre jovens a partir de computadores e dispositivos móveis, como celulares, tabletes,
net books.
Eles trocam fotos íntimas provocativas que acabam indo parar na rede
mundial de computadores, muitas vezes sem o conhecimento dos envolvidos.
Durante três dias, a reportagem entrou em salas de bate-papos, passando-se por
uma adolescente de 13 anos que teria o apelido sou eu.
Em 23 minutos de conversa em um dos chats, um jovem, que declarou ter 18
anos, convidou a reportagem a migrar para uma sala virtual privada com áudio e
vídeo.
Durante este período, vários outros internautas que estavam no mesmo chat adotaram comportamento semelhante entre si.
Durante este período, vários outros internautas que estavam no mesmo chat adotaram comportamento semelhante entre si.
O rapaz, que se identificou como Douglas_18, disse que gostaria de ver o
corpo da suposta adolescente, "entre outras coisas".
Perguntado se ele se incomodava com a idade da suposta vítima, o internauta respondeu: "Problema nenhum". Em seguida, pediu o telefone celular, identificando qual seria a melhor operadora para conversarem.
Perguntado se ele se incomodava com a idade da suposta vítima, o internauta respondeu: "Problema nenhum". Em seguida, pediu o telefone celular, identificando qual seria a melhor operadora para conversarem.
Diante da resistência, novo bate-papo foi marcado para dois dias depois.
O jovem disse que estaria sozinho em uma sala fechada, em casa: "É meu
território, ninguém vem aqui".
A conversa aconteceu em um chat onde estavam 33 usuários, com apelidos
como quero_as_novinhas, fotos_de_novinhas, nunacam, novinhaesafada$$. A maioria
dos jovens afirmava ter idade entre 12 e 16 anos e, invariavelmente, a conversa
migrava para outro serviço de bate-papo, mais reservado.
Os adolescentes trocavam endereços de Face book e de MSN, o serviço de
mensagem instantânea da Microsoft. Um dos internautas, supostamente com 19
anos, se ofereceu para aparecer nu para os participantes do chat. "Mim
(sic) adiciona no MSN", explicou para Andreia_13_anos, ao mesmo tempo em
que deu o seu endereço do Messenger. As abordagens também são feitas por
meninas, que pedem para os garotos ligarem as câmeras de suas máquinas.
Em meio à excitação dos adolescentes e ação de pedófilos, dois tipos de
vírus são distribuídos na web. Eles escravizam as máquinas dos adolescentes que
têm a câmera controlada por terceiros.
Os vídeos gravados são publicados em sites pornográficos. Um deles tem
imagens com jovens baianos em cenas explícitas de sexo, supostamente nas
cidades de Jaguaquara, Barreiras, Cruz das Almas, Salvador, entre outras. Há
cenas até em escolas.
Pesquisas - Uma pesquisa divulgada pela Middlesex University, de Londres, na última
semana de março deste ano, revelou que pedófilos levam apenas oito minutos para
quebrar o gelo com crianças de até 12 anos e estabelecer um vínculo, em
diálogos com conteúdos sexuais.
O trabalho foi realizado durante quatro anos e acompanhou o comportamento
de usuários de salas de bate-papos. Ele tem servido de alerta para pais,
educadores e autoridades britânicas que colaboraram com a pesquisa.
No Brasil, o Fundo das Nações Unidas para Infância e Juventude (Unicef),
em parceria com a Google, concluiu a primeira etapa de preparação de um estudo
que será realizado ainda neste ano.
Entre dezembro de 2011 e fevereiro último, foram realizados cinco grupos
focais com 50 estudantes de escolas de Brasília para identificar, entre outros
aspectos, a melhor linguagem para os questionários que serão aplicados no
segundo semestre.
Mário Volpi, coordenador do Programa Ser Adolescente Brasil, do
escritório nacional do UNICEF, afirma que é evidente o descompasso entre o que
os pais acham que os filhos estão fazendo na internet e o que efetivamente está
acontecendo. “Lembro de um jovem que declarou que na internet ele é outra
pessoa, ele joga tudo, não tem medo”.
Para Volpi, ”o uso da internet é um direito do adolescente, uma forma de
socialização, mas é preciso garantir que ele seja exercido sem violar também o
direito de outras pessoas e sem expor o próprio jovem”.
No dia 3 de abril, foi instalada na Câmara Federal uma Comissão
Parlamentar de Inquérito para investigar a exploração sexual de crianças e
adolescentes. Segundo a presidente da CPI, deputada Érika Jucá Kokay (PT/DF), a
apuração de denúncias sobre crimes virtuais e assédio a jovens na web também
foi aprovada no plano de trabalho. “A Polícia Federal, com sua área de crimes
cibernéticos, vai nos auxiliar”, explicou.
http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/materias/1265235-internautas-assediam-adolescentes-para-bate-papo-virtual-com-cenas-de-sexo